terça-feira, 1 de março de 2011

centésimo décimo quinto capítulo [115º]

(Ainda na visão de David)


- Peço imensa desculpa, mas o senhor não pode estar aqui, ainda por cima sem identificação…! – ouvi a voz grossa do senhor.


Perceber inglês, nem era o meu pior pesadelo, mas falar, já começava a ser.


- Eu é que peço imensa desculpa, porque não sei falar bem inglês. – disse da forma que conseguia.

- Pode falar na sua língua, que eu sou capaz de perceber, sou espanhol. – disse.

- Me deixa ficá aqui… É minha mulhé…!

- Vai ter que sair, esta parte é interdita, depois de falar com os médicos pode ser que eles o deixem ver pelo vidro, mas isso não me compete e o senhor vai ter que me acompanhar à secretaria para preencher os seus dados. – disse em espanhol.


Uma lágrima caiu-me pelo rosto, desviei o olhar do homem e voltei a olhar para a minha princesa. O rosto dela continuava sereno, no meio de tantas feridas. Apertei-lhe as mãos e a minha cara começava a ficar inundada de lágrimas. Não a queria deixar ali, não a queria deixar desprotegida, e queria garantir que ela acordava e me via, me tinha ali, como ela sempre tivera para mim. Beijei a sua face, a sua mão e a aliança que ela me prometera que iria usar até ao resto da sua vida. Pedi a Deus para cuidar dela, e para ela e a minha neném estar bem de saúde. Fechei os olhos, tentei travar as lágrimas mas foi em vão. Inclinei-me e provei seus lábios, ela estava deitada de uma maneira que me acalmava, sem qualquer sofrimento no seu rosto, estava branca, mas linda, como é desde que a conheço. Desviei a minha cara da dela, e sequei as lágrimas que passei para a sua cara.

Assenti com a cabeça ao segurança e saí do quarto com ele, caminhei ao seu lado, seguindo-lhe os passos. O meu peito estava preso, duro e estava a começar a sentir-me mal, o segurança levou-me à secretaria e explicou a situação à administrativa, até a parte de falar pelo menos em espanhol.


- Pode dizer-me o seu nome?

- Completo? – ela assentiu com a cabeça e eu prossegui. – David Luiz Moreira Marinho.

- Tenho aqui que é marido da senhora que está hospitalizada.

- Isso mesmo, será que posso falar com o médico, sabe alguma coisa?

- Vou ver se consigo, está bem? Tente acalmar-se que a nossa equipa é excelente… E já agora, liguei à senhora, e como não tinha informações ela pediu para lhe ligar assim que poder…

- Muito obrigado, estou esperando aqui… - sentei-me e marquei o número da Mariana.


- Estou? – a voz dela mostrou-me que também estava aflita.

- Oi, Mari… - arrastei a voz.

- David? David? David! O que é que aconteceu à Paulinha? David! – senti que ela estava a chorar e a intensidade do meu aumentou.

- Não sei! Me chamaram ao hospital mas não tão dizendo nada! Ela tá nos cuidados intensivos… - arrastou a voz no meio do choro.

- David? – ela disse no meio do choro. – Liga-me assim que souberes de algo… Eu vou ver se compro passagem e depois falo com os pais dela.

- Eu te ligo! Beijo. – desliguei e vi o médico encaminhando-se até mim.


- David Marinho, marido da paciente Paula Silva? – falou em espanhol.

- Sim. – respondi, limpando as lágrimas. – Que lhe aconteceu.

- A Paula sofreu um grave acidente, um condutor embriagado despistou-se e bateu contra ela em contra-mão…

- E agora? Como tá? E o bebé? – perguntei com os olhos cheios lágrimas.

- Os médicos seguiram agora com ela para o bloco, só estavam a preparar tudo… Vamos tentar salvar o bebé, mas a Paula é a prioridade…

- Doutó… Me garante que ela vai ficá bem! Que vão fazé de tudo para ver o meu neném e minha mulhé…!

- Tem que ter calma, vou voltar para o bloco, assim que acabarmos dizemos…

- Ok, estou esperando.


Foram as 2 horas mais longas da minha vida. Troquei mensagens com a Mari, o Gustavo e minha mãe, bebi 6 copões de café e me devo ter levantado umas 50 vezes para perguntar à mulher da secretaria se já tinha novidades.  O medo de perder uma das coisas mais importantes da minha vida, era muito, e perder as duas de uma vez, tornava o medo mais do que duplicado. Rezei muito a Deus pela saúde dos dois…


- Sr. David? – estremeci com a voz do médico, estava demasiado afogado nos pensamentos.

- Sim? – levantei-me num lápice.

- Lamento imenso… Não conseguimos salvar o bebé…


As lágrimas invadiram-me a face e fiquei sem reacção. O meu corpo estava totalmente intacto. Congelei totalmente. Meu neném… Meu filhinho…


- E minha mulhé?

- Está a recuperar… Já acordou…, quer visitá-la?

- Claro!


Segui até ao local e continuava no mesmo quarto dos cuidados intensivos. Primeiro espreitei pelo vidro. Ela estava lá como antes, mas a sua cara marcava sofrimento, e o seu olhar olhava para o vazio cheio de lágrimas. Entrei na sala devagar e ela olhou imediatamente. Os nossos olhos começaram a inundar-se novamente e ela começou a chorar ainda mais. Aproximei-me dela e beijei-a nos lábios.


- Sou uma fraca, David! Uma fraca! – os olhos dela tinham um misto de raiva, tristeza e frustação.

- Shiu! – ajoelhei-me perante a sua cama e beijei-lhe a mão. – És uma lutadora! Vou tar sempre contigo!

- Perdi o nosso filho, David! Como é que ainda tens coragem de me amar, de me chamar lutadora, se não fui capaz de o salvar? De morrer no lugar da vida dele? – o barulho das máquinas começou a aumentar e ela acalmou-se um pouco.

- Não fala isso não! Deus não faz nada à toa, amo… E te amo sim! Vou amá sempre! Sei que fez tudo o que pode… E vou tar sempre com você!

- Não presto, David! E se eu morresse hoje? O que é que tu tinhas para contar se a nosso bebé tivesse vivo? Que espécie de pessoa sou?

- Ei que é isso?

- É verdade! Que tipo de pessoa sou eu? Olha para mim… Não trabalho, não estou realizada profissionalmente! Que tipo de pessoa ia ser eu nos olhos dela?

- Ia ser o orgulho dela, e tenho a certeza que nesse momento já é!

- David… Desculpa, mas preciso de ficá sozinha…

- Mas… Eu não quero que fique sozinha, quero ficá do seu lado!

- David… Deixa-me, por favor…!

- Tudo bem, cê que sabe. – beijei-a na testa, mas ela respondeu com frieza.


(Paula)

Acordei com uma enorme dor de cabeça, passado pouco tempo comecei a abrir os olhos, o que me custou imenso. Percebi que algo de errado se tinha passado. Olhei à volta e vi um senhor que me observava, percebi que estava num quarto do Hospital.

- Bom dia! Bem vinda de volta…!

- O que se passou? Onde estou? Onde está o meu marido?

- A senhora sofreu um grave acidente… - olhou para a minha barriga.

- O meu bebé… COMO É QUE ELE ESTÁ?

- Lamento imenso… fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.


Uma lágrima caiu-me pelo rosto e senti a minha vida a desmoronar.  Como não consegui salvá-lo? Como é que não consegui ser forte o suficiente para fazê-lo? Porque não lhe dei a vida e parti eu? Talvez fosse uma chamada de atenção de Deus, eu era nova, dependia financeiramente de David (neste momento) e talvez não tenho maturidade suficiente para levar um bebé no ventre, quando mais para a educar.

Os médicos disseram que iam chamar o meu marido. Estava sem forças para discutir e para os impedir e assenti com a cabeça.

Ele abriu a porta, e começámos os dois a chorar descontroladamente. Ajoelhou-se ao lado da minha cama e, segurou-me na mão docemente, foi mais querido do que eu esperava, mas os seus olhos nunca me mentiam e transmitiram-me a sua tristeza e sofrimento. Fui fria, não consegui ser amável depois de ter perdido a prova viva do nosso amor. Tinha raiva de mim própria e comecei a tomar uma decisão mentalmente, que iria mudar, muito provavelmente as nossas vidas.



Paula 
Todos os direitos reservados ªª

11 comentários:

  1. Bem não sei o que dizer!! Mas que decisão é essa???

    Menina Paula o que andas tu a preparar???

    Continua... quero mais...

    bjs

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  2. :O :O Está fantástico e arrepiante ao mesmo tempo! Está óptimo, Paulinha! Eu adorei tanto!! :D
    Continua!
    Beijão, gata <3<3

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  3. excelente... ela nao pode ficr assim...

    quero mais...

    continua...

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  4. Hum, já te disse o que pensava disto, gosto, amo e quero mais, muito mais! +.+
    Tens um jeito e um talento, que infelizmente continuas a negar, mas graças a deus com o qual nos continuas a presentear. Fico à espera do próximo, Paula Marie!
    Beijinhos ^^
    Te amo!

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  5. caty: ahah, é uma decisão :b beijinhos <3

    bia: oh, que linda! muito obrigada minha linda! beijão, ly <3<3

    ana: muito obrigada! beijinhos <3

    drii: pois já, amorzão! :b
    e a drica lipa teja caladinha com isso do talento shim? (: beijão, te amo también! <3<3

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  6. Ohh qe pena ter perdiidO O bebe'!! =S

    Liinda, adOrO a fOrma cOmO escreves.. MuiitO, muiitO mesmO.. =DD

    COntiinua, shiim??

    BjnhO

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  7. O capitulo está lindo.
    mas agora paula o que é que andas a tramar, eles não podem fivar chatiados......:s
    LOOL
    Adoro a tua fic.
    beijinho e continua.

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  8. Ela nao o vai deixar pois nao?! Diz-me que nao ;$

    Amei ;D

    Quero mais

    Beijinho*

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  9. diidii: muito obrigada minha linda! <3 beijinho!

    inêsm: obrigada inês! :D beijinho **

    nii'i: tens que continuar xb, obrigada! beijinho <3

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  10. :O :O
    Fiquei assim! :O
    Paulinha, até chorei! Está simplesmente... Olha, adorei!
    Aii o Neném :/
    Tens talento sim!
    Beijinho
    Ana Sousa

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  11. oh, não quero que chores ana! (:
    muito, muito, muito obrigadaa!!

    beijinho *

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