centésimo oitavo capítulo [108º]

TERÇA-FEIRA: 25 de Janeiro de 2011

17:30h---

- Meu anjo, acho que tá na minha hora. – disse o David abrindo a boca.

- Já? – desencostei-me do sofá. – Amanhã vou ver se vou lá…

- Não precisa, meu amor. Fica em casa, bem, quentinha…

- Eu agora vou ver todos os jogos do Benfica, não sei quando será o último em que jogas…

- Nem eu sei, anjinho… Mas as camisetas serão sempre para você. – beijou-me. – Eu volto logo…

- Amo-te, macarrão. – sorri.

- Eu também, cuida desse neném.. – tocou na minha barriga.

- Com certeza! – imitei o sotaque dele.

O David beijou-me e depois acabou por sair.

Tinha que me arranjar, pois era a festa do Eusébio. Tomei um banho relaxante e depois vesti-me, maquilhei-me e arranjei o cabelo do modo mais natural possível.

Conduzi para o local da festa que decorreu na normalidade e foi super agradável. Temi que os jornalistas me encontrassem e fizessem perguntas sobre a continuidade ou não do David no Benfica, mas tinha que sair do edifício.

Eles estavam colocados estrategicamente perto do meu carro. Cumprimentei-os e olhei para o chão. As perguntas começaram a bombardear-me assim como os flashes das máquinas fotográficas.

- Paula, Paula! – gritavam. – O David já foi transferido para o Chelsea de Inglaterra? – perguntou um deles.

Eu mantive-me calada e continuei a caminhar na direcção do meu carro. Mas eles eram persistentes, aliás, exageradamente persistentes.

- Peço desculpa, mas não vou responder. Com licença. – dito isto, aproveitei a deixa e entrei no carro, eles afastaram-se e eu pude seguir descansada para casa.

QUARTA-FEIRA: 26 de Janeiro de 2011

Acordei tarde, com o telemóvel a tocar, olhei no visor e vi “Elena a chamar”, carreguei no botão verde e atendi.

- Guapa! – disse.

- Oi. – respondi com voz de sono.

- Cómo fica todo para el juego?

-  Eu vou, queres fazer-me companhia?

- ¡Por supuesto! ¡Yo no te iba a dejar!

- Obrigada, mi amor! Então vens cá ter a casa?

- Sí! Va a dormir más un poco. – riu-se. – Hasta Luego!

- Hasta.

Não voltei a dormir, nem sequer tentei porque sabia que não iria conseguir fazê-lo.

Levantei-me da cama, tomei um banho quente e vesti uma roupa normal.

O cabelo secou ao natural e ficou semi-ondulado.

Desci as escadas e preparei um almoço antecipado, porque depois não teria muito tempo para comer. Preparei um creme de marisco e foi o que almocei. Hoje não liguei a televisão, nem fui à internet a última coisa que me apetecia era ver/ouvir jornalistas a darem notícias sem terem a certeza que é verdade.

A Elena chegou pouco depois e seguimos para o estádio, o Benfica acabou  por ganhar, mas os cânticos dos adeptos era fixados no David.

A chegada a casa, vou calma, e entre mim e o David na cama, como todos podem imaginar não haviam conversas de futebol.

SEGUNDA-FEIRA: 31 de Janeiro de 2011

Último dia de mercado aberto, último dia de tortura constante, espero eu.

Eram 18h da tarde, e o meu telemóvel vibrou enquanto eu olhava impaciente para a televisão, impaciente por notícias, por ouvir da voz dele onde iríamos viver nos próximos tempos.

- David? – atendi. – Novidades? – disse imediatamente.

- Vou jogar no Chelsea. – disse com a voz a falhar.

- Já assinaste? – disse enquanto uma lágrima me caía pelo olho.

- Queria fazê com você do meu lado… Posso ir buscá-la a casa?

- E vamos para onde? – a insegurança apoderou-se de mim. – Já levo malas?

- Decerto é melhor… Eu ajudo você a pôr algumas coisas…

- Não é preciso, a tua já tinhas feito, a minha é rápido, depois venho a Lisboa, ou peço a alguém para me levar, não interessa! – acho que a voz de choro foi-lhe perseptível.

- Não chora… Se não quisé ir… Não precisa, eu compreendo…

- Claro que vou! Eu era incapaz de te deixar ir sozinho… Vem, vem rápido, para junto de mim..

- Cê é linda! Te amo!

- Eu também, zuca lindo! – sorri entre as lágrimas ao chamar-lhe isso.

Ele desligou e eu comecei a fazer a mala, para ser franca, não sei dizer o que coloquei lá, mas a última coisa, foi a última camisola do Benfica dele, ainda tinha pingas de suor, ainda tinha o próprio cheiro, mas isso não me fazia ter nojo, fazia-me ter mais saudades.

Levei as malas para o piso de baixo e ele apareceu pouco depois. A porta da entrada abriu-se tão rapidamente como fechou. Os olhos dele formaram  também lágrimas, o meu coração partiu em bocadinhos pequeninos ao vê-lo assim. Eu também chorava, mas queria parar para que ele não se sentisse mal…

- Não chores, meu amor… - pedi, e sequei as lágrimas que tinha no rosto.

- Me desculpa… Eu sei que você não queria ir… Mas o presidente pressionou… E na verdade ele tem razão não é nada mau, para o profissional, mas você é mais importante… Esse não é o David que conheço…

- Shiu… Ouve, eu vou estar sempre contigo, nunca te deixaria ir sozinho… É óptimo! É óptimo! E esse é o David que sempre sonhou em menino ser um dos melhores jogadores do mundo e que já o é, isto é só mais uma prova… Esse é o meu David. – beijei-o. – Eu sei que vamos ser muito felizes lá! Tenho muito orgulho em ti.

- Cê é linda. – chorou ainda mais e amarrou-me para ele. – Mas eu nunca me vou esquecer disto aqui… Nunca me vou esquecer do Benfica. Me deu tudo o que eu tenho… Deu estabilidade financeira, para mim e para minha família no Brasil, me fez jogador, me deus óptimos amigos, que vão ficar para a vida, me fez sentir o que é amor pela camisola, e me deu a coisa mais preciosa desse mundo… você!

- Ai de ti que te esquecesses, até lá vou ver os jogos. – ri para aliviar a tensão.

- Amô… temos de ir ao aeroporto, acho que vou embarcar, se quiser pode ficá, se despede de todo o mundo, e depois vai…

- Não! Eu vou contigo, depois quando lá chegarmos mando mensagem ao pessoal.

Seguimos para o aeroporto, o Gustavo e o Rui foram lá ter e tiveram-se a despedir do David. Mas, depois de alguma confusão o David acabou por ir assinar o contrato ao estádio da Luz. Antes de partir, combinei encontrar-me com os rapazes no café onde actuei durante anos.. Foi emotivo, como esperava. Depois, eu e o David fomos até casa do Rúben, onde também estava a Elena e o Javi.

O David ficou cá fora a falar com o Javi, enquanto eu entrei dentro de casa e vi o Rúben, a Mari e a El..

- Paula! – a Mari correu para junto de mim e abraçou-me enquanto chorava. – Não acredito que ao fim de seis anos, nos vamos separar… Eu preciso de ti!

- Tem calma… Isto é um até já… Vou falar sempre com vocês todos. Vou voltar! – sorri. – Este é o meu país…

Desta vez a Elena e o Rúben aproximaram-se.

- Vou ter saudades,  miúda! – disse o Rúben. – Voltem rápido! – abraçou-me. – Nunca me vou esquecer dos momentos que passámos juntos, sem o David e com o David.

- Eu também, Rúben. – uma lágrima rebelde caiu sem autorização. – Vocês ajudaram-me muito! E eu nunca me vou esquecer disso. E… Agora têm casa em Inglaterra, também!

Ele beijou-me a testa, limpou as lágrimas, e saiu, olhei-o pelo vidro, e emocionei-me com o abraço sentido que ele dera ao Rúben.

Depois, olhei para a Elena, e esta também fazia um esforço para não chorar. Não pensei mais nada e abracei-a.

- Te amo, chiquitita! Es para siempre mi españolita preferida, la más linda de todas!

- Después, tenemos que combinar una sesión de  compras en Londres… las tres!

- Claro! – sorri.

- Meu amô… Temos que ir, o jatinho está nos esperando…

- Pronto. – abracei as duas ao mesmo tempo. – Vemo-nos em breve!

Conduzimos para o aeroporto e quando lá cheguei escrevi uma mensagem que mais tarde mandava aos meus pais, à minha irmã, alguns primos mais próximos e algumas amigas de infância.

 “Boa noite!

Os mais atentos já devem ter percebido que o David foi transferido para o Chelsea, clube em Inglaterra. Para mim era impensável a decisão de ir, acabámos de casar, e o bebé que esperamos é mais que prova suficiente. Peço-vos que não me censurem por não ter ligado, pois assim que arranjar por ouvir as vossas vozes estando mais longe ainda, ligarei, e contarei as novidades. Desculpem não me ter despedido, mas já me conhecem, odeio despedidas, e acho que já tive suficientes na minha vida para fazer de isto um drama. Sei que iremos ser muito felizes lá, é uma oportunidade fantástica.

Serei sempre vossa, e assim que precisarem de alguma coisa, ou ouvir a minha voz, eu estarei sempre, sempre disponível. Paula (:”

- Vamo? – disse baixinho ao meu ouvido depois de termos passado pelos jornalistas.

- Vamos. – sorri. – Vamos ser ainda mais felizes. – e beijei-o.

Entrámos no avião, e despedi-me assim de Lisboa, bom, não era uma despedida, era um até já, porque depois de Fafe, esta será sempre a minha cidade. Quanto a Londres, acho que vou sentir falta das pessoas que amo, do Benfica (claro!) mas será bom para ambos, ele, num clube muito mais conhecido, e eu terei mais trabalho nesta cidade.

Paula ♥

Todos os direitos reservados ªª

PARA SEMPRE NOSSO, DAVID  ♥